Trata-se de uma sátira
ao Prêmio Nobel e um trocadilho com a palavra inglesa ignoble (repugnante em português). São pesquisas que 'não podem e nem devem ser repetidas',
cujo tema parece brincadeira, mas que até pode servir para
reflexão. Algumas pesquisas premiadas são extravagantes, com importância e
mérito científico altamente questionáveis.
Neste ano, 2015, uma das pesquisas favoritas ao Prêmio Ignobel chamou minha atenção. Um pesquisador americano estimulou abelhas a picá-lo em 25 partes diferentes do corpo pra verificar quais são mais sensíveis e doem mais quando picadas... (Trabalhei com abelhas por mais de 30 anos e até poderia ajudar... rsrs). Entretanto, numa pesquisa, além do tema há de se considerar o controle dos parâmetros analisados: a quantidade de veneno injetada é fundamental no desencadeamento da dor e isto não foi considerado. Pelo menos, 25 abelhas morreram, inutilmente (se é que o resultado pudesse oferecer alguma serventia - talvez para apiterapia?)...
Lembrei-me de um colega biólogo que se divertia bolando temas bastante esdrúxulos, tais como: 'A síndrome do asfalto na psicose da minhoca', 'A influência do pôr-do-sol na cópula da mariposa'. A secretária, grande amiga nossa, que datilografava os relatórios (sim... eu sou desta época) se divertia mas não copiava este tipo de título. Certa feita, como os relatórios anuais se acumularam, contrataram outra secretária pra ajudar e ela o fez sem questionar. Imaginem o que aconteceu...
A gente sabe ainda que, uma lista grande de pesquisas publicadas em revistas de 'alta linhagem', se enquadraria no prêmio 'ig nobel' - a arte de perder tempo e dinheiro em assuntos irrelevantes ou, mesmo, meras repetições (papagaiadas) de pesquisas já publicadas (com pequenas mudanças prá 'ingles ver'), sem contar temas extraordinariamente bizarros.
Da mesma forma, muitas 'pautas de reuniões' também se enquadrariam como fortes candidatas a receber este título e, ao invés disso, são extenuamente debatidas, esvaindo a seiva de profissionais, alguns até altamente qualificados. Haja visto, os célebres e atuais comitês de ética que chegaram a propor que se impeça a exposição da fisionomia de um animal em trabalhos científicos!!!
Não estou e nem quero denegrir a existência de
comitês. Eles são importantes pra estancar ou amenizar muitos abusos que podem
ser cometidos em nome da ciência. Mas, comete-se, em nome deles, grandes
exageros que atravancam pesquisas sérias.
A verdade é que nunca se pesquisou tanto e nunca se
desperdiçou tanto dinheiro com pesquisa. Da mesma forma que nunca se vulgarizou
tanto a palavra dita ou a palavra dada ou mesmo a palavra publicada.
Muitas frases são atribuídas a autores que jamais a
disseram. A liberdade é fundamental, mas o respeito pela autoria também
deveria ser. Seja de máximas absolutas como também de bobagens absurdas.
Li um artigo muito interessante referente a frase
sobejamente conhecida: "Posso não concordar com o que você diz,
mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Esta frase, indevidamente
atribuída a Voltaire, foi escrita por um autor desconhecido. Um comentarista
disse em relação a ela: "Eu posso não concordar com o que citas, e
por isso requisitarei sempre suas fontes para poder checá-las"*
As autorias estão sendo desvalorizadas e, muitas são falseadas,
copiadas e os verdadeiros autores desconhecidos. Muitas palavras ditas ou
escritas 'jogadas ao
vento'.
Finalizando, nem tudo que reluz é ouro. Nem toda pesquisa realizada em grandes universidades são dignas de nota (literalmente). Por outro lado, pesquisas simples podem elucidar fatos muito interessantes e se tornar o esteio de grandes descobertas. Infelizmente, muitas delas, tem sido levianamente desprezadas.
Apesar dos absurdos, a vida tem me ensinado a olhar para a
extravagância com menos pré-conceito já que a idéia do 'normal' pode
ser mutável conforme o enfoque que damos. Lembro-me de uma colega de faculdade,
famosa pelas perguntas óbvias e, até absurdas. Entretanto, aos poucos comecei a
prestar mais atenção e, especialmente em algumas delas, consegui vislumbrar o
quanto o conceito e o apego à 'normalidade' pode obstruir
nossa visão e atrapalhar nossos avanços. Afinal, os conceitos e o foco na
normalidade podem tirar a amplitude da nossa visão.
Digo isto com respeito à compreensão das coisas que
nos cercam. Philip Yancey considerou no livro “Rumores
do outro mundo” que muitos acontecimentos interessantes podem
ocorrer ao nosso redor e não serem processados pela incapacidade de
visualizarmos o panorama global.
Seria o ponto cego, imenso na
maioria dos casos, que roubaria a inteireza de nossa sensibilidade, tornando
nossa vida incompleta. Um desperdício. Olhos e ouvidos embaçados, sonolentos,
indiferentes diante da beleza e diversidade da criação de Deus.
"E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2).
Sim, não quero tomar a forma deste mundo, quero ser
transformada pela Palavra e pelos absolutos de Deus de modo a enxergar o mundo
com os olhos extravagantes da fé, sem deixar de perceber o inusitado e sem
desperdiçar minha vida.
Meu sobrinho, pastor Maurílio disse: 'Não quero chegar
na eternidade e descobrir que vivi somente 10% de toda uma vida extraordinária
que Deus tinha preparado pra mim'. Sim, eu também quero ver e viver a vida em
toda a sua inteireza. Que Deus me ensine a fazer isto!
Que Deus me dê discernimento para compreender e valorizar (escritos, filmes, pesquisas) o que realmente importa num mundo tão soterrado de idéias e valores ignóbeis, mas também com tantas pérolas escondidas...
'Ensina-nos, Senhor, a remir o tempo (Ef
5.16), aproveitar as oportunidades (Cl 4.5) e, em Sua Presença, encontrar
a verdadeira sabedoria'.
"E, se clamares por
inteligência e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a
prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do
Senhor e acharás o conhecimento de Deus.
Porque o Senhor dá a sabedoria e da
sua boca vem a inteligência e o entendimento. Ele reserva a verdadeira
sabedoria para os retos;
é escudo para os que caminham na
sinceridade" (Pv 2.3-7)
* http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/44/a-falsa-citacao-de-voltaire-investigacao-afirma-que-a-300467-1.asp
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