Deserto: Abandono, Castigo ou
Oportunidade de Deus?
“Portanto, eis que Eu a atrairei, e a levarei para
o deserto,
e lhe falarei ao coração” (Os
2.14).
Conta-se que num vestibular para ingresso numa Faculdade de
Publicidade, um dos itens da prova era redação livre, com o seguinte
tema: “Descreva o que você vê na folha anexa”. Os candidatos
estranharam: a folha estava em
branco. A melhor nota
foi conferida a um candidato que escreveu: “Nesta folha em branco, vejo
uma grande oportunidade”.
Quantos dias, quantos anos nos restam? Não
sabemos! Podem ser poucos ou muitos. Sabemos, entretanto, que são folhas em
branco que indicam que a nossa história ainda não acabou.
É crermos que estar vivo é um presente de Deus, uma grande
oportunidade!
Como precisamos absorver esta verdade e nos animarmos,
aquietarmos o nosso coração mesmo em meio a um deserto árido e seco. É
vislumbrarmos pela fé que algo novo pode acontecer, um renovo do Pai que mudará
a nossa história.
Você pode pensar: “Está complicado demais... Meu
passado é bem isto: uma folha mal aproveitada, sem realizações que mereçam ser
divulgadas. Muitas frustrações, muitos sonhos desfeitos. Foram tantas as lutas,
tantas expectativas e eu aqui, estagnado, na aridez de um deserto, sem
saber o que fazer. Como posso, nesta situação, enxergar oportunidades?”
Francisco Otaviano (1829 – 1889) declarou na poesia “Ilusões
da Vida”: “Quem passou pela vida em branca nuvem, e em plácido repouso
adormeceu. Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não
sofreu, foi espectro de homem - não foi homem. Só passou pela vida, não viveu”.
Para os que confiam que Deus está no controle absoluto da
sua história como enxergar um deserto? Um castigo? Um lugar de abandono, de
indefinições? Ou oportunidade de construir um novo legado, num
local especial, num ateliê, onde uma nova biografia é delineada e esculpida
pelas Mãos do Eterno Pai.
Quando meditamos na história dos grandes homens de Deus
vemos que os desertos foram o palco onde ocorreu o sobrenatural e a fé destes
homens amadureceu.
Vemos que a luta é o material e método de
Deus pra nos ensinar dependência e perseverança na fé. O resultado? Experiência com o Pai, a esperança
no porvir (Rm 5.3-4).
A calmaria pode gerar soberba em nosso coração e nos afastar da
fonte da nossa energia, que move nossa vida para propósitos eternos:
“Quando tinham pasto, eles se fartaram, e, uma
vez fartos,
ensoberbeceu-se-lhes o coração; por isso, se
esqueceram de mim” (Os 13.6).
Como um lápis precisa ser afiado, lapidado para escrever
melhor, para deixar marcas nítidas, nós precisamos ser tratados por Deus,
passados por apontadores para ficarmos mais competentes, preparados para novos
desafios. Os desertos podem significar pausas de preparação.
Você pode pensar: 'Tudo isto parece tão teórico!' Gostaria
de compartilhar uma experiência. Por algumas razões, mudamos de cidade. Saímos
do conforto, do aconchego de amigos, do conhecido para algo novo, estranho. A
adaptação foi árdua, penosa! Enxergava, incorretamente, um deserto. Entretanto,
foi um período fértil de experiências. Aprendi a depender de Deus, vi milagres
acontecendo, meus valores foram testados, minha confiança em Deus fortalecida
e, posso garantir, que sai mais enriquecida, com mais convicção da minha fé,
com muitos frutos e com novos e preciosos amigos. Foi um período extraordinário
e indispensável na minha biografia.
Quando nos submetemos a Deus pela fé, Ele se revela e,
então, algo surpreendente acontece. A certeza de não estarmos sozinho, que Deus
está conosco e Ele tem um propósito para nossa vida que jamais será frustrado
(Jó 42.2). É fascinante! Os desertos transformam-se em campos
floridos, férteis, transbordantes de frutos suculentos.
Há pedras no caminho? Sim! Entretanto, quando reclamamos,
Deus nos repreende: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé,
como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes
seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5). Como receber
maiores incumbências, novos desafios como usufruir de uma vida abundante, se
lutas infantis, elementares abatem, paralisam o nosso interior?
O sofrimento é pedagógico porque nos ensina a lei de Deus
(Sl 119.71). Conta uma historia que certo dia um garoto resolveu nadar,
junto com os seus irmãos, num rio que havia no fundo da casa dos seus avôs. Uma
cobra sucuri grudou no menino que começou a se debater, em vão. Os seus
gritos alertaram o avô que foi até ali e o puxou tenazmente. A força da
cobra era grande, mas maior era a paixão de seu avô pelo menino e nada o faria
soltá-lo. Com uma faca ele foi furando a cobra que amoleceu e soltou o garoto.
Ele trazia no corpo as marcas da mordida da cobra, mas trazia também as marcas
das mãos do seu avô, resultantes do esforço feito para retirá-lo das garras da
serpente.
Muitas vezes trazemos marcas em nossas vidas. Marcas de
lutas, cicatrizes, permitidas por Deus para nos proteger, para que não nos
perdêssemos nas arapucas da vida. Quando o mundo tentava nos seduzir, nos
engolir, Deus nos puxava para mais perto dele.
Para nós o sofrimento pode representar confrontação, dor.
Entretanto, para Deus, uma oportunidade de nos resgatar, de renovar a aliança
conosco. Pode doer, mas pode ser a grande oportunidade de conhecermos melhor o
Deus vivo: “Eu te conheci no deserto, em terra muito seca” (Os
13.5).
O que as provações têm causado em nós? Tem tornado nosso
coração amargo, intolerante, duro, atolado na autopiedade? Tem paralisado nossa
vida? Ou as lutas têm nos aproximado de Deus, tem nos feito enxergar o Seu
agir, o Seu cuidado, o Seu propósito?
Nenhum comentário:
Postar um comentário