'Restaurando-se das cacofonias da vida'

Porque teu é o Reino e o poder, e a glória, para sempre. 
Amém!" (Mt. 6:13)

         Hoje li que a vida, assim como a música, às vezes tem harmonia e, em outras, cacofonia (G. Forman). 

         O que é cacofonia? Nome dado a sons que não 'entram redondo' nos nossos ouvidos, destoam, tornam-se desagradáveis pela união, nem sempre favorável, de palavras.

      

         Muitas vezes nos deparamos com momentos de cacofonia em nossas vidas. Acontecimentos que destoaram daquilo que tanto esperávamos. Afinal, nem tudo é redondinho. Os espinhos, as crises acontecem quando menos esperamos.

         Mas Deus é tremendo e trata conosco. A certeza de que nossas vidas estão em Suas mãos de onde provém a harmonia, mesmo quando os acontecimentos chegam com 'farpas', desafinados, é tranquilizante.

         Lembro-me de José do Egito que nos ensinou que Deus torna o mal em bem, em favor de muitos (Gn 50.20). 
         Paulo teve a mesma compreensão ao escrever que o Espírito Santo intercede por nós emitindo gemidos inexprimíveis que são sondados por Deus junto com o nosso coração de modo que tudo que ocorre em nossas vidas, mesmo com aparência desarmônica e repulsiva, se tornarão em nosso benefício (Rm 8.26-28). ALELUIA!!!

         Sim, eu creio que, em todas as coisas, Deus está no controle. Então, mesmo sem compreender, posso aquietar o meu coração. 

         Meu Deus, meu Pai, autor e consumador de todas as coisas. Criador e Sustentador da minha vida, da minha história. 'Obrigada Senhor, porque tudo provém das Suas mãos e posso esperar que o mal se tornará em bem'.

         Certo menino perguntou ao pai: 'Qual o tamanho de Deus?' O pai olhou para o céu e perguntou ao filho: 'Que tamanho tem aquele avião?' O filho respondeu: 'Pequeno, quase não dá pra ver'. O pai, então, levou o menino para o aeroporto e bem próximo de um avião perguntou: 'E agora, qual o tamanho do avião?' O filho diz: 'Puxa, é enorme!' O pai explicou: 'Assim é com o tamanho de Deus, quanto mais próximo você estiver d'Ele, mais vai perceber a Sua grandeza!' 
        Lembro-me de Asafe (Sl 73). Estava inquieto com a prosperidade dos arrogantes, dos perversos, até que... adentrou no santuário de Deus e atinou com o fim deles pela justiça e grandeza do Senhor Todo Poderoso.

         Johannes Kepler (1571-1630), o grande astrônomo alemão, após um longo dia em seu observatório fez uma declaração belíssima onde confessa sua fé no Deus Eterno,  registrada no livro 'Os quatros livros da Harmonia Celeste':

"Antes de deixar esta mesa, sobre a qual fiz todo o meu trabalho, só me resta levantar os olhos e as mãos aos céus numa humilde prece ao autor de toda a luz. A Ti... dou graças pelo que experimentei no êxtase em que me precipitou a contemplação da obra das tuas mãos. Findo se acha o livro que contém o fruto do meu trabalho. Nele entreguei toda a soma de inteligência que me deste. Proclamei, perante a humanidade, toda a grandeza da Tua obra, dei-lhes os testemunhos, tanto quanto meu espírito finito me permitiu aprender da tua grandeza infinita." 

"Grande é Deus, grande é a sua força, infinita a Sua Sabedoria. Louvai-O, céus, louvai-O sol, lua e planetas, louvai-O harmonias celestes, e tu também, ó minh'alma, louva o Senhor, teu Criador, pois tudo vem Dele, tudo existe por Ele, tudo está n'Ele, tanto as coisas sensíveis e as ininteligíveis, daquilo que ignoramos profundamente, como também a parte insignificante das coisas que sabemos."*

         

       

Que Deus me ensine a ser mais sensível a esta vida tão especial, tão rica em sons, aromas, coloridos, texturas e, especialmente, ao amor que é fecundo, contagiante e que deixa o nosso coração transbordante de esperança, dissipando toda dor.

         E a cacofonia da vida? 

Deus se revelará através dela, transformando-a numa bela e única harmonia. Sim, eu creio!!!

"Quanto a mim, bom é estar junto a Deus;

no Senhor Deus ponho o meu refúgio, 

para proclamar todos os Seus feitos" (Sl 73.28).

* J. Kepler, Epitome of Copernican Astronomy and Harmonies of the World, translated by C. Glenn Wallis, Prometeus Books, NY, 1995, Book V, p. 240-245.