“... Sob a Tua Palavra lançarei as redes" (Lc 5.5b)


'O Teu caminho, ó Deus, é de santidade.

Que Deus é tão grande como o nosso Deus?

Tu és o Deus que opera maravilhas e, entre os povos, tens feito notório o teu poder" (Sl 77.13-14)


terça-feira, 7 de junho de 2016

'Saboreando a vida'

Devaneios de minha filha Deborah publicado no facebook - 29/05/2016
          Esses dias eu estava parada no Semáforo e o carro ao lado começou a buzinar. A motorista gesticulava escandalosamente! Interrompi meus pensamentos e, preocupada, logo diminui o volume do rádio e baixei o vidro do carro para tentar entender quais Leis de Trânsito eu estava infringindo ou quantos seres viventes eu havia atropelado para causar tamanho incomodo àquela senhorinha. Mas notei q ela gesticulava e sorria. Ufa.. Ok! Dei um sorriso amarelo enquanto tentava lembrar de onde poderia conhecê-la. Hospital? Mercado? Igreja? TV!?... Nada! Demorei alguns segundos ainda para conseguir entender o q ela me falava. 
          Para minha surpresa, ela apontava uma árvore próxima e me questionava, maravilhada, se eu já tinha visto um pássaro azul tão lindo quanto aquele que lá estava pousando. Meus olhos o encontraram após uma triagem entre os galhos e eu concordei. Ele era realmente azul... E lindão! Ela se deu por satisfeita, o sinal abriu, abanei a mão e agradeci, sorrindo. 
          Confesso que acelerei o carro me perguntando quantas vezes eu deixei de permitir essa leveza na vida... Leveza que cria a necessidade de apontar um passarinho azul para um completo desconhecido. Talvez devêssemos fazer mais dessas maluquices! Compartilhar vida. Ao vivo! Distribuir mais daquilo que é gratuito e ao mesmo tempo não tem preço que compre. Aquele dia, eu ganhei um pássaro azul na minha memória. Ganhei também matéria prima pra ponderar sobre a vida, sua singularidade... Sobre aquelas coisas que, de tão simples, não dá pra deixarmos passar em branco :) Bom domingo! Bjo da Deh 
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Segue um dos textos que ministrei para mulheres da IPB de Jundiaí (maio/2016), intitulado: 'Descomplica, saboreie cada porção da vida'

"Tudo tem o seu tempo determinado, 
e há tempo para todo propósito debaixo do céu" (Ecl 3.1)


        No livro de Eclesiastes, o autor (possivelmente o Rei Salomão) busca sentido, alegria (2.1) em vários âmbitos: descobrimentos científicos (1:10-11), sabedoria e filosofia (1:13-18 ), álcool (2:3), arquitetura (2:4), bens (2:7-8; 19-20) e sexo (2:8).

        Finalmente, confessa que teve tudo que alguém poderia desejar mas, tardiamente, percebe que é tudo fútil, canseira e que nada dura para sempre.

        Parece que Salomão, na sua meia-idade, está dizendo: 'Olha, vou contar pra vocês o que aconteceu comigo para que os meus erros não se repitam em sua vida'.

        Ele enfatiza que o destino é um só: a democrática morte que atinge a todos. Um ditado popular diz que todos (peão, reis e damas), no final do jogo, sem exceção, voltam para dentro da caixa.


        Salomão considera ainda que ralou pra construir um patrimônio, para outros desfrutarem dele. Pessoas que não lutaram para adquirí-lo e que, portanto, não darão a ele o devido valor: 


"Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim.

E quem pode dizer se será sábio ou estulto?

Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas fadigas e sabedoria debaixo do sol; também isto é vaidade" (2:16, 18-19).

        Apesar de Eclesiastes parecer um livro muito pessimista, na realidade, não é! Trata-se de um livro que nos ensina a valorizar o que temos e o momento em que vivemos, sem perder a visão da eternidade. Alerta-nos a não nos apegarmos ao que é passageiro porque jamais nos satisfará por completo. 
       Enfim, ensina-nos a saborear a vida, a desfrutá-la em sua inteireza, sem perder de vista a nossa missão.
       Conta-se que alguém disse para Einstein: 'Deus não joga dados' e Einstein replicou: 'Sim, Deus joga xadrez: nada é por acaso, é estratégia com um propósito'. 
       Que Deus nos capacite a cumprir este projeto, a exemplo de Davi:
“... tendo Davi servido à sua própria geração,

conforme o desígnio de Deus, adormeceu...” (At 13.36)


        Entretanto, vivemos numa sociedade cruel pelas suas exigências, muitas vezes, inatingíveis. Especialmente as mulheres são cobradas a cumprir jornada dupla e a ser a melhor profissional, mãe e esposa. Estar sempre linda, jovem, arrumada, feliz, e, numa neurose coletiva, em busca do corpo perfeito, um padrão de beleza inacessível. 
        Existe um corpo perfeito? Se existir, tem prazo de validade muito curto!

        Trata-se de uma imposição que transcende o cuidado pessoal. Um assunto permanente em toda refeição: ansiedade sobre as calorias consumidas, celulites e o benefício do que se come. O custo tem sido caro: transtornos alimentares, cirurgias em série, consumo de tranqüilizantes. 

        O Brasil é o segundo país do mundo em cirurgias plásticas. Numa total perda de bom senso, a beleza deixou de ser um detalhe e passou a ser história de vida, o objetivo essencial.

        E há muitos que vivem mexendo na trave do nosso gol. Quando conquistamos algo nem dá pra comemorar porque novos desafios surgem e há sempre alguém que conseguiu resultados melhores e faz melhor que nós. Ufa!!!
        Há ainda quem queira modelar o corpo e também a alma, com recursos externos. Já ouvi várias vezes: 'Se eu não tomar antidepressivo, viro um monstro, brigo com todo mundo, não durmo a noite'.

       

        Eu proponho que não se fale em calorias quando comemos! Que saboreemos cada porção com muita satisfação, sem pensar na porção seguinte. Isto vale pras refeições e também para cada atividade. 

        Que vivamos com a cabeça limpa, sem antidepressivos (salvo as necessidades médicas, devidamente justificáveis).
        Ah, mas e o meu temperamento? Deus nos presenteia com o fruto do Seu Espírito, que em nós habita, que é alegria, amor, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22-23). É só buscar desenvolver...
       
        Ah, meus amados, precisamos de tão pouco pra viver, pra ser feliz. Deus pode nos dar paz, alegria, significado. Com Ele na nossa história podemos fazer de cada bocado um grande banquete. Ver um passarinho azul em cada momento de nossa vida.

        O próprio autor de Eclesiastes resume o seu livro dizendo: 

"De tudo o que se tem ouvido, a suma é: 

Teme a Deus e guarda os seus mandamentos... " (Ec 12:13-14)


         Os resultados pertencem a Deus e Ele não exige competência, desempenho acima de nossas forças.

"O que a mim me concerne

o Senhor levará a bom termo..." (Sl 138.8a).


        Sabedoria é um estilo de vida! É valorizar o conteúdo e não as embalagens. É aprender rir com seus próprios tropeços. É ter uma vida mais leve, mais tranqüila. É compreender que o melhor da vida pode estar nos lugares mais singelos e inesperados.

Sabedoria é saber que tudo que tenho é o suficiente,
o bastante, é o que eu preciso pra ter uma vida extraordinária.
        Alguém disse: 'Dê ao homem tudo o que ele quer e logo ele verá que o tudo não é o bastante' (Ec 1.8). Mas, como podemos querer mais se não cuidamos do que temos?
        Sabedoria é se adaptar, se ajustar ao contexto, às nossas possibilidades e recursos.

        Sabedoria é fazer o melhor com que temos. Fazer o extraordinário de coisas triviais. É viver cada momento sem perder a noção da efemeridade desta vida e da eternidade (Jó 19.25-27).
"Faze com que saibamos como são poucos os dias da nossa vida para que tenhamos um coração sábio" (Sl 90.12).

        Muitos de nós não gosta de falar da morte, mas a perspectiva dela faz com que valorizemos a vida e nos ocupemos em cumprir o propósito de Deus.


        Sabedoria é ter consciência que está vivo, respirando, comendo (porque tem alimento disponível, apetite), dormindo (porque tem sono, tem um lugar pra fazer isto), bebendo porque tem a disposição uma água límpida, deliciosa - sim, água tem sabor e é muuuito bom.

        A pessoa tola não presta atenção, não valoriza, não tem o coração agradecido. Por isso, torna-se uma pessoa enfadada e enfadonha, chata. Faz tudo no automático. Morreu e se esqueceu de cair, como dizia meu pastor (Rev. Magno). Não há tédio naquilo que valorizamos... que saboreamos. 

        'Carpe diem', frase em latim tirada de um poema de Horácio significa aproveitar o momento, sem gastar tempo com coisas inúteis.

        Pessoas felizes porque valorizam o que tem sem inventar necessidades para ser feliz. 

        Enfim, vamos simplificar, saborear a vida. Reduzir as exigências conosco mesmo e  com os outros. Façamos do que temos um majestoso banquete. Se for pão duro, um delicioso pudim de pão. Afinal, o bolinho de arroz amanhecido é muito mais gostoso que o arroz fresco, não é mesmo?


Não faz sentido ter mais dias de vida

se não tiver vida em nossos dias (autor desconhecido).

DESAFIO: O que eu preciso mudar pra simplificar minha vida? 

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